Onda T positiva em aVR na cardiomiopatia Peri parto

Um novo marcador de resultados cardíacos adversos em cardiomiopatia peri parto, (PPCM – Peri Partum Cardiomiopathy, sigla em inglês) é o achado de onda positiva T em AVR.   Situação cujo curso e eventual valor prognóstico foram propostos e analisados por autores turcos na edição de janeiro 17 do Annals of Noninvasive Electrocardiology*.

 

A PPCM é definida como uma forma de insuficiência cardíaca com fracção de ejecção reduzida (EF), habitualmente <45%, que se apresenta no final da gravidez ou no pós-parto precoce em mulheres previamente saudáveis, onde nenhuma outra causa de insuficiência cardíaca é encontrada.

 

O mecanismo fisiopatológico exato da doença é desconhecido, mas foram identificados vários fatores de risco, tais como mecanismos genéticos e hormonais, resposta imune ou gravidez com hemodinâmica anormal, aumento do stress oxidativo e inflamação.

 

O curso clínico varia de plena recuperação da função ventricular esquerda à falência progressiva do coração, complicações tromboembólicas, arritmias com risco de vida e até mesmo a morte cardíaca.

 

Portanto, a capacidade de identificar indicadores precoces de prognóstico em mulheres diagnosticadas com PPCM é fundamental na estratificação de risco, utilizando estratégias de manuseio razoáveis, prevenindo complicações e melhorando os resultados.

 

Os preditores de resultados adversos definidos de forma inconsistente em vários estudos e incluem uma FE já no início baixa (<30%), diâmetro diastólica próximo ou maior que o limite superior de normalidade, idade mais avançada e raça negra.

 

A Onda T positiva em AVR (AVR T+) tem a vantagem da facilidade diagnóstica por um eletrocardiograma de 12 derivações de rotina indicando alteração da repolarização, e tem sido considerada um poderoso preditor independente de mortalidade cardiovascular na população em geral e em algumas doenças cardiovascular, como na SCACEST (Síndrome Coronária Aguda com Elevação de ST)

 

No entanto, não havia evidências sobre o papel prognóstico da AVRT+ em pacientes com PPCM.

 

Portanto, o objetivo dos autores no estudo foi avaliar o papel prognóstico da AVRT+ positivo na predição de eventos arrítmicos, disfunção ventricular esquerda sistólica persistente e mortalidade cardiovascular em doentes com PPCM, no qual incluíram 82 pacientes (idade média 29,1 ± 6,3 anos) com diagnóstico de PPCM.

 

A morfologia do eletrocardiograma foi cuidadosamente observada para detectar a presença de AVRT+.

 

A duração média do acompanhamento foi de 67,0 meses. O objetivo primário foi definido pela composição de eventos cardíacos, incluindo: morte cardíaca, eventos arrítmicos e disfunção sistólica ventricular esquerda persistente.

 

Pacientes com onda positiva T em AVR (30 pacientes, 36,6%) apresentaram taxas mais elevadas de disfunção sistólica ventricular esquerda persistente, arritmia cardíaca e morte em comparação com pacientes com ausência AVRT+.

 

Na análise de regressão logística múltipla, após ajuste para outros fatores de confusão, verificou-se que a presença de AVRT+ foi um forte preditor independente do “end point” final primário combinado (odds 6,21, IC 95% 1,45-26,51; p = 0,014).

 

Na análise de sobrevida de Kaplan-Meier, os desfechos primários e secundários ocorreram com maior frequência no grupo AVRT+.

 

Usando o nível de corte de 0,25 mV, a amplitude da onda T ema AVR previu desfecho primário com uma sensibilidade de 100% e uma especificidade de 100%.

 

Portanto, os autores concluíram que a onda T positiva em AVR, é um marcador eletrocardiográfico simples e viável, podendo vir a ser um novo preditor de desfechos cardiovasculares adversos em pacientes com PPCM.

 

* Ekizler FA, Cay S, Kafes H, Ozeke O, Ozcan F, Topaloglu S, Temizhan A, Aras D. The prognostic value of positive T wave in lead aVR: A novel marker of adverse cardiac outcomes in peripartum cardiomyopathy. Ann Noninvasive Electrocardiol. 2019 Jan 17:e12631. doi: 10.1111/anec.12631. [Epub ahead of print]