Desfibrilador externo automático na identificação de arritmias ventriculares letais em pediatria

Um artigo publicado na recente edição de 11 de julho no European Journal of Pediatrics teve o cuidado de enfatizar a importância do desfibrilador automático externo na identificação de arritmias ventriculares letais como expressão de cuidado e amor para salvar crianças que desenvolvem Parada Cardíaca (Cardiac Arrest – CA – sigla em inglês) inesperada.

Os autores, pediatras americanos, assinalam que a Fibrilação Ventricular (FV) e a Taquicardia Ventricular Polimórfica (TVPM) são arritmias cardíacas raras, porém mortais e frequentemente responsáveis por Morte Súbita Cardíaca (MSC ou SCD. em inglês) infantis. 

A etiologia destes ritmos letais inclui canalopatias congênitas, miocardite, isquemia / infarto em anomalias coronárias, cardiomiopatias, insuficiência cardíaca avançada ou após cirurgia de cardiopatias congênitas. Em alguns casos, a causa permanece desconhecida.

Embora sua ocorrência seja rara, a MSC infantil pode ter um impacto imenso na sociedade devido à sua natureza inesperada e catastrófica.

O reconhecimento e tratamento oportuno da FV ou TVPM com Ressuscitação Cardio Pulmonar (RCP) e Desfibrilador Externo Automático (DEA) são fundamentais e essenciais.

No entanto, a estratificação e detecção de risco de MSC em crianças e adolescentes não estão bem estabelecidas. Além disso, o mecanismo molecular subjacente da FV não é totalmente compreendido.

Anteriormente, pensava-se que a incidência de FV era muito rara entre as crianças em comparação com adultos, mas relatórios recentes sugerem que os números podem ser subestimados na população pediátrica.

síndrome da morte súbita por arritmia (Sudden Arrhythmic Death Syndrome –SADS, sigla em inglês) é definida como um ritmo letal: FV ou TVPM sem anormalidades cardíacas identificadas na autópsia.

A apresentação clínica da SADS é altamente variável; 20 a 30% dos casos ocorrem em relação com o exercício, enquanto entre 30 e 50% ocorrem em repouso ou durante o sono.

Ao contrário de cardiomiopatia e doença cardíaca congénita, a identificação de uma população de alto risco para SADS é difícil porque os pacientes são frequentemente assintomáticos até ao seu primeiro desfecho clínico, incluindo SCD.

No texto que é comentado, casos abortados de SCD ocorridos no centro em que os autores trabalham são apresentados. A presença de uma arritmia letal pode ser identificada pelo DEA como um ritmo cardíaco passível de choque e assim tratada. A existência do desfibrilador cardíaco externo é então estabelecida como um indispensável dispositivo de identificação e tratamento de arritmias letais detectadas. 

Considerando o que foi dito, foi realizada uma coorte retrospectiva de pacientes com morte súbita cardíaca (MSC) abortada.

Vinte e cinco pacientes (14 homens) de 1,3 a 17,5 anos de idade que apresentaram CA sobreviveram com ressuscitação cardiopulmonar imediata.

Dezoito desses pacientes não apresentavam nenhum diagnóstico cardíaco prévio. A Parada Cardíaca ocorreu em 10 pacientes com exercício mais do que moderado, em 7 com exercícios leves e 8 em repouso (incluindo um durante o sono).

Vinte e dois pacientes foram ressuscitados com DEA, todos reconhecidos como um ritmo cardíaco viável para receber um choque.

Extensas pesquisas nesta população revelaram 6 canalopatias iónicas (IVPM (4), Taquicardia Catecolaminérgico, Síndrome de QT longo e SB), Cardiopatias Congénitas (5 -incluindo dois com obstrução coronária), Cardiomiopatias (6), miocardite (2) e não diagnosticadas (2). Quatro pacientes não apresentavam doença cardíaca identificável.

Em 5 pacientes, a gravação do ritmo pelo DEA delineou as arritmias e as respostas às descargas elétricas.

Quatro pacientes com crises convulsivas em repouso foram inicialmente tratadas como desordens elétricas cerebrais até que o desfibrilador registro e identificou a presença de arritmias ventriculares letais.

Como conclusão os autores afirmam que o DEA permite identificar com segurança as arritmias ventriculares letais subjacentes e trata-las, abortando assim a MSC.

Registro de arritmia letal durante a ressuscitação cardiopulmonar (RCP) pelo DEA deve ser sempre obtido, uma vez que desempenha um papel crucial no processo de tomada de decisão antes da implantação de um ICD, decisão que não é fácil em crianças e adolescentes.

 * Tsuda T, Geary EM, Temple J. Significance of automated external defibrillator in identifying lethal ventricular arrhythmias. Eur J Pediatr. 2019 Jul 11. doi: 10.1007/s00431-019-03421-9. [Epub ahead of print]