CASTRO HEVIA, Jesús – Cuba

Continuando com a série de notícias originadas em publicações de autores latino-americanos, membros de LAHRS (Latin American Heart Rhythm Society) que iniciou-se com o artigo sobre o Papel do Feixe  Septo pulmonar no Flutter atrial (FA) dependente do teto do átrio esquerdo coassinado por Luis Carlos Sáenz, atual Presidente da Sociedade seguida ontem pelo comentário sobre Taquicardias atriais tratadas com ablação do seio de Valsalva não coronariano, do colega Eduardo Sternick do Brasil, hoje vamos lidar com uma publicação recente originada em Cuba, cujo primeiro autor é Jesús Castro Hevia e co-autor, Charles Antzelevitch, abordando a importância da realização de ECG em séries múltiplas, as quais auxiliam no diagnóstico e prognóstico da síndrome de Brugada * (BrS).

Os autores apontam na introdução que uma elevação espontânea do segmento ST do tipo coved (cúpula, ápice convexo) no eletrocardiograma (ECG) tem sido reconhecida como uma ferramenta de estratificação de risco em pacientes com BrS particularmente em casos assintomáticos ou após duvidosa síncope por uma causa arrítmica.

Sabe-se que o tipo de elevação do segmento ST apresenta um elevado dinamismo, oscilando entre a elevação do ST “cúpula” e não “cúpula” secundária a influências farmacológicas, autonômicas e mudanças na frequência cardíaca.

O mecanismo fisiopatológico subjacente à BrS tem sido associado a anormalidades de repolarização e/ou despolarização ventricular; O grau em que cada um contribui para a fisiopatologia da doença continua sendo um tema de debate. 

Além das proeminentes ondas J, que são responsáveis pela elevação do segmento ST nesta síndrome, outras características eletrocardiográficas têm sido associadas que incluem um QRS fragmentado, um padrão de repolarização precoce, um intervalo Tpeak-Tend (Tp-Te) aumentado, dispersão prolongada e maior de Tp-Te com risco aumentado de desenvolvimento de arritmias potencialmente fatais.

Levando em consideração essas características, os principais objetivos deste estudo foram: 

1) Comparar os parâmetros do ECG em pacientes com ECG de segmento ST de tipo “cúpula” espontâneo (tipo I) versus ECG não “cúpula”.

2) Determinar a variabilidade destes parâmetros de ECG com medidas repetidas.

3) Avaliar o valor preditivo dos parâmetros eletrocardiográficos nesses dois grupos durante o acompanhamento em pacientes com BrS com cardioversor desfibrilador implantado (CDI).

Para este fim, entre 2000 e 2017 foram estudados 42 pacientes consecutivos com BrS e CDI implantados. O ECG serial foi obtido e as características clínicas avaliadas ao longo de um período de 199 meses.

O intervalo QT, o intervalo QTc, a duração do QRS, a faixa de TP-Te e a dispersão de Tp-Te foram significativamente mais longos no ECG espontâneo dos portadores do tipo I vs aqueles sem elevação ST tipo 1 e todos os parâmetros do ECG mostraram uma variabilidade significativo durante o registro em série obtido ao longo do seguimento. 

Pacientes com ECG espontâneo tipo i durante esse período de seguimento de 114 ± 56 meses apresentaram um risco muito maior de TV/FV do que aqueles sem ECG tipo 1 (p = 0,016). 

Além disso, o risco de desenvolvimento de arritmias ventriculares potencialmente fatais foi diretamente relacionado à fração de ECGs apresentando um padrão espontâneo de tipo I durante o acompanhamento.

Os autores cubanos concluíram que o estudo ilustra a necessidade dos ECGs tenham séries múltiplas e contribuam no diagnóstico e prognóstico da BrS. 

Os ECGs em série podem ajudar na estratificação do risco com base na fração de ECGs que mostram o tipo de ECG I expontâneo da BrS. 

* Castro Hevia J, Dorantes Sanchez M, Martinez Lopez F, Castañeda Chirino O, Falcon Rodriguez R, Puga Bravo M, de Zayas Galguera J, Antzelevitch C. Multiple serial ECGs aid with the diagnosis and prognosis of Brugada syndrome. Int J Cardiol. 2019 Feb 15;277:130-135. doi: 10.1016/j.ijcard.2018.08.089. Epub 2018 Aug 30.