Bloqueio interatrial avançado (BIA) como marcador substituto da redução do strain atrial esquerdo prediz a FA (Fibrilação Atrial) e o AVC (Acidente Vascular Cerebral) (*)

Antoni Bayes de Luna e colegas descreveram os critérios eletro-vetocardiográficos que identificam o bloqueioo interatrial (BIA ou IAB: Inter Atrial Block –sigla em Inglês) e sua relação causal e ou preditiva da ocorrência de fibrilação atrial (FA) e outras arritmias supraventriculares, quadro clínico que com justiça foi proposto ser denominado Síndrome de Bayes por Conde, Baranchuk (**) e outros pesquisadores em 2015.

Existem dois tipos de IAB: parcial (pIAB) e avançado (aIAB). No pIAB, o estímulo apresenta condução lenta entre os dois átrios, mas pode atravessar o septo através da região do chamado feixe de Bachmann, enquanto em pacientes comaIAB, a condução do estímulo elétrico é totalmente bloqueada nesta região condutora.

Análise ecocardiográfica com “speckle tracking” método de rastreamento de sinais transtorácicos (STE -sigla em inglês) mostrou que uma diminuição do valor absoluto da tensão (SR: Strain Rate) e a taxa de deformação durante a função na fase bomba de reforço (SRA) do átrio esquerdo (AE) e durante o seu enchimento prediz o desenvolvimento de nova FA não-valvular, a progressão de FA paroxística para persistente ou permanente e a recorrência de FA depois de ablação por cateter.

Recentemente, foi descrito por dados de STE que os pacientes com BIA mostram uma diminuição na SRA.

Com esse histórico, o objetivo do presente estudo foi avaliar a relação entre alterações do STE do AE e o aparecimento de FA ou AVC em pacientes com BIA. 

O estudo realizado em um centro único teve desenho observacional prospectivo que incluiu 98 pacientes ambulatóriais divididos em: A) 55 (56,2%) controles com ECG normal sem sobrecarga atrial esquerda (SAE). B) 43 pacientes com BIA, sendo 21 (21,4%) com BIA parcial (pIAB) e 22 (22,4%) com BIA avançado (aIAB). 

O “end point” final foi: FA de início recente, acidente vascular cerebral isquêmico e o composto por ambos.

Durante um acompanhamento médio de 1,9 (1,7-2,3) anos, 20 pacientes apresentaram o “end point final” (18 FAs de início recente e dois AVCs) sendo 8 (14,5%) no grupo controle, e 12 em pacientes com BIA: 3 (14,3%) em pIAB e 9 ( 40,9%) em aIAB, (p = 0,03).

Na análise multivariada de regressão de Cox, diminuição da tensão durante a taxa a função da bomba de reforço (SRA) foi a única variável independente associada com o aparecimento na evolução do “end point” final, no primeiro modelo (idade, duração da onda P e SRA): 19,9 RH (CI 95%, 3,12-127,5), p = 0,002 e segundo (idade, presença de aIAB e SRA): RH CI 24/02 (95%, 3.15- 185,4), p = 0,002.

Por conseguinte, os autores concluíram que, em pacientes com BIA, um decréscimo no valor absoluto do SRA do AE obtido com STE prediz a ocorrência da FA e acidente vascular cerebral isquémico. 

Estudos futuros devem confirmar esses resultados e avaliar a utilidade prognóstica do STE da IA em pacientes com BIA.

(*) Lacalzada-Almeida J, Izquierdo-Gómez MM, García-Niebla J, Elosua R, Jiménez-Sosa A, Baranchuk A, Bayes de Luna A. Advanced interatrial block is a surrogate for left atrial strain reduction which predicts atrialfibrillation and stroke. Ann Noninvasive Electrocardiol. 2019 Feb 5:e12632. doi: 10.1111/anec.12632. [Epub ahead of print]

(**) Síndrome de Bayés: lo que un cardiólogo no debe dejar de saber (What a Cardiologist must know about the Bayes Syndrome) Diego Conde, Adrián Baranchuk FACC, FRCPC, Revista Argentina de Cardiologia/ Vol 82 nº 3 / junho 2014