A mensagem sobre o uso de mensagens

Quando lemos a pesquisa realizada por Guerra et al. (1) Em relação ao uso de meios eletrônicos na prática médica, ficamos curiosos para saber qual era a situação na América Latina. Sabíamos intuitivamente que os avanços tecnológicos e, principalmente, a necessidade de trabalhar remotamente devido à pandemia catalisaram seu uso, mas não o quantificamos. Também achamos importante que o LAHRS se envolvesse institucionalmente na questão (2).

A grande maioria dos entrevistados envia (89%) e recebe (98%) dados clínicos de pacientes por meio de um dos aplicativos de mensagens instantâneas. Isso nos permite afirmar que já é parte integrante da prática médica. Os instrumentos que utilizamos são os que tiveram maior difusão na região e os dados obtidos são mais uma avaliação da situação do mercado digital. O tipo de informação compartilhada é esperado de acordo com a especialidade dos médicos pesquisados. No topo da lista estão as diferentes modalidades de registro da atividade elétrica cardíaca. A maioria dos eletrofisiologistas (71%) declarou que envia as informações sem utilizar os dados de filiação do paciente, mas 51% afirmaram receber informações clínicas com dados que permitiriam sua identificação. Nessa diferença vemos um aspecto importante a ser refletido. A isto acrescenta-se que os regulamentos legais relativos à troca de informações sensíveis não são conhecidos e, portanto, é possível supor que não são motivo de preocupação.

O trabalho não indaga sobre o uso de novas tecnologias que são utilizadas entre pacientes e seus médicos. Esse aspecto também é uma questão importante. A heterogeneidade no uso provavelmente é ainda maior e pode ser a causa da iniquidade no atendimento. Também geram situações de risco potencial para pacientes e médicos. Aos primeiros, na qualidade da assistência e aos segundos na área médica legal. Outro ator envolvido são as instituições assistenciais. Durante a pandemia, eles foram forçados a procurar alternativas ao atendimento presencial e isso introduziu instrumentos que provavelmente durarão após a emergência. Aqui são adicionados problemas de relacionamento trabalhista com o pessoal de saúde, que muitas vezes não foram formalmente resolvidos.

É inegável que as novas tecnologias de informação e comunicação vieram para ficar. A deontologia e a ética médicas também estão evoluindo, mas não na mesma velocidade. Em muitos aspectos, hoje eles estão sendo desafiados. A legislação sobre o assunto em cada país pode variar e em muitos é inexistente. Insistimos que o levantamento realizado mostra o desconhecimento que temos sobre este aspecto.

Em todos os países existem códigos de ética médica que não podemos ignorar. Também temos o código de ética médica da Associação Médica Mundial (3). Aí fica estabelecido que temos a obrigação de “respeitar o direito do paciente à confidencialidade. É ético divulgar informações confidenciais quando o paciente dá consentimento…”. Também diz que o médico deve “quando clinicamente necessário, comunicar-se com colegas que cuidam do mesmo paciente” e “Esta comunicação deve respeitar a confidencialidade do paciente e se limitar às informações necessárias”.

Esses preceitos são anteriores à existência de novas tecnologias. A questão é quando e quanto devemos atualizá-los.


Dr. Alejandro N. Cuesta Holgado PhD FESC
Cardiologista – Cardiologista Pediátrico – Eletrofisiologista
Prof. Adj. Centro Cardiovascular Universitário, Hospital de Clínicas, UdelaR
Chefe do Serviço de Arritmias, Instituto de Cardiologia Integral, MUCAM, Montevidéu
Pró-Tesoureiro LAHRS

Referências:

  1. Guerra, F., Linz, D., Garcia, R., Kommata, V., Kosiuk, J., Chun, J., Boveda, S., Duncker D. Use and misuse of instant messaging in clinical data sharing: the EHRA-SMS survey. Europace. 2021 Aug 6;23(8):1326-1330. doi: 10.1093/europace/euab063
  2. de Oliveira Figueiredo, M. J., Cuesta, A., Duncker, D., Boveda, S., Guerra, F., Márquez, M. F. Use of instant messaging in electrophysiological clinical practice in Latin America: a LAHRS survey. Europace. 2022 Jun 21:euac080. doi: 10.1093/europace/euac080
  3. https://www.wma.net/es/policies-post/codigo-internacional-de-etica-medica/