As Sociedades do Ritmo Cardíaca e de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Polonesa de Cardiologia emitiram uma opinião conjunta sobre o potencial efeito benéfico do sacubitril / valsartan (ARNI = Angiotensin Receptor Neprilysin Inhibitor – sigla em inglês) na ocorrência de arritmia ventricular e o risco de morte cardíaca súbita em pacientes com insuficiência cardíaca crônica com fração de ejeção ventricular esquerda reduzida (HFrEF – Heart Failure with reduced Ejection Fraction – sigla em inglês), publicada na edição de 17 de setembro do Kardiologia Polska, jornal oficial da Sociedade Polonesa de Cardiologia.
O documento observa que as tendências atuais mostram que a prevalência de insuficiência cardíaca (IC) continua a aumentar e que a insuficiência cardíaca descompensada é a causa mais frequente de hospitalização de adultos, resultando em alta morbidade, mortalidade e baixa qualidade de vida.
Pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida do ventrículo esquerdo (HFrEF) também apresentam alto risco de morte súbita cardíaca (MSC).
Estima-se que aproximadamente 40% dos óbitos na HFrEF estejam relacionados à MSC causada principalmente por arritmia ventricular.
Foi demonstrado anteriormente que o risco de MSC em pacientes afetados por HFrEF é reduzido com tratamento médico otimizado que inclui inibidores do sistema renina-angiotensina (IECA: Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina e BRA: Bloqueadores do Receptor da Angiotensina), Beta bloqueadores e Antagonistas dos Receptores Mineralocorticoides (ARM).
De acordo com as diretrizes atuais, o uso de bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA) deve ser restrito a pacientes que não toleram inibidores da ECA.
O tratamento com terapias de dispositivos, como um Cardiodesfibrilador implantável (CDI), terapia de ressincronização cardíaca (TRC) ou ambas, também é recomendado em pacientes selecionados para reduzir a morbimortalidade.
De acordo com dados de registros europeus recentes, o uso de CDI e CRT está aumentando constantemente e atingiu aproximadamente 10-24% e 7-14%, respectivamente na vida real, em pacientes com HFrEF
Para agravar essa situação, a IC é considerada uma grande impulsionadora dos custos de assistência médica para os próprios contribuintes e pacientes. Portanto, são necessários esforços contínuos para a otimização do tratamento, incluindo a melhoria da farmacoterapia, dispositivos e tratamento ambulatorial da doença.
Uma novidade importante no tratamento de HFrEF nos últimos anos foi o registro de um novo medicamento que contém uma combinação de sacubitril e valsartan, que é uma associação de um inibidor do neprilysin) e um antagonista de receptor de angiotensina II (ARNI).
No estudo PARADIGM-HF (estudo que realizou uma comparação prospectiva do efeito de um (ARNI) vs enalapril para determinar o impacto na mortalidade e morbidade geral na insuficiência cardíaca), houve redução significativa do risco de hospitalização e morte no grupo de intervenção com ARNI, o que representa uma possibilidade real de melhora no tratamento da IC.
Os primeiros dados publicados sobre o uso prático de sacubitril / valsartan em pacientes ambulatoriais com IC na Polônia mostraram uma redução significativa nos sintomas da IC, melhor tolerância ao exercício e uma diminuição nas concentrações do peptídeo natriurético (NTproBNP), bem como uma boa tolerância ao medicamento.
Este trabalho p0sicional apresenta a compilação e interpretação do estado atual do conhecimento sobre a influência do sacubitril-valsartan na ocorrência de arritmias ventriculares, risco de MSC em pacientes com HFrEF.
O objetivo dos autores deste documento foi discutir as possíveis propriedades antiarrítmicas do sacubitril-valsartan e sua importância para melhorar a qualidade de vida e o prognóstico dos pacientes com IC.
O sacubitril / valsartan reduz significativamente a gravidade dos sintomas de insuficiência cardíaca, o risco de hospitalização e morte e é caracterizado por um bom perfil de segurança, por isso tem uma forte posição nas diretrizes das sociedades cardíacas internacionais.
No entanto, o mecanismo exato pelo qual o ARNI causa um efeito benéfico na mortalidade cardiovascular é desconhecido. É provável que as vantagens do ARNI resultem da melhora da fração de ejeção do ventrículo esquerdo, remodelamento miocárdico positivo e da maior disponibilidade do peptídeo natriurético (NTproBNP).
Portanto, o sacubitril / valsartan pode exibir propriedades antiarrítmicas e reduzir o risco de arritmias ventriculares e MSC em pacientes com IC e FE reduzida.
Julga-se de provável importância: o aprimoramento da função e estabilização elétrica dos cardiomiócitos que podem resultar na diminuição de intervenções adequadas e do risco de inadequadas do Cardiodesfibrilador acompanhadas também por melhora na sincronia interventricular pelo sistema de ressincronização.
Como conclusões e recomendações, os autores enfatizam que:
- A redução da mortalidade pelo sacubitril / valsartan (ARNI) está fortemente associada a uma modificação do risco de MSC e morte devido a exacerbação da insuficiência cardíaca e a diminuição do aparecimento de potenciais arritmias letais.
- A substituição pelo ARNI, em troca do IECA, na farmacoterapia ideal atual, independentemente da presença de um dispositivo implantável, pode trazer benefícios adicionais, incluindo uma redução no risco de EM.
- A otimização da farmacoterapia com ARNI em pacientes com dispositivos implantados pode resultar em uma redução do risco de intervenções adequadas e inadequadas do dispositivo, melhora da sincronia na estimulação biventricular dos sistemas de ressincronização e na qualidade de vida e no prognóstico
- O papel do RNAI no tratamento de arritmias supraventriculares e a determinação das indicações para o implante de CDI ou TRC como parte da prevenção primária de CTM ainda não estão claramente estabelecidos.
* Grabowski M, Ozierański K, Balsam P, Dąbrowski R, Farkowski MM, Gackowski A, Jędrzejczyk-Patej E, Kalarus Z, Leszek P, Nessler J, Sterliński M, Opolski G, Przybylski A. The effect of sacubitril/valsartan on the occurrence of ventricular arrhythmia and the risk of sudden cardiac death in patients with chronic heart failure with reduced left ventricular ejection fraction. Expert opinion of the Heart Rhythm and Heart Failure Associations of the Polish Cardiac Society. Kardiol Pol. 2019 Sep 17. doi: 10.33963/KP.14972. [Epub ahead of print]