Pesquisadores chineses acabaram de publicar em Medicine (Baltimore) os resultados de uma revisão sistemática e metanálise que estudou a associação entre alterações na largura do QRS e respostas ecocardiográficas à terapia de ressincronização cardíaca*.
Na introdução eles apontam que a terapia de ressincronização cardíaca (TRC) é uma estratégia de tratamento estabelecida na insuficiência cardíaca para melhorar a função ventricular esquerda por meio do remodelamento reverso naqueles pacientes que permanecem sintomáticos apesar da terapia médica ideal.
Pacientes com classes II a IV da New York Heart Association (NYHA), com QRS largo em padrão de Bloqueio de Ramo Esquerdo no ECG e fração de ejeção do ventrículo esquerdo reduzida (FEVE≤ 35%) recebem TRC para melhorar sintomas, tolerância ao exercício, qualidade de vida e reduzir o risco de mortalidade.
No entanto, quase um terço deles não obtém resultados vantajosos porque os efeitos benéficos estão correlacionados com rigorosos programas de monitoramento e otimização precisa dos intervalos atrioventricular e interventricular não alcançados neles.
Portanto, são necessários preditores potenciais para identificação e seleção de pacientes que respondam melhorando os resultados, riscos e custos médicos.
As diretrizes europeias e americanas sugeriram a duração do QRS como um indicador-chave para a seleção de pacientes para terapia com TRC.
Estudos anteriores já indicaram que o prolongamento do complexo QRS foi um dos preditores mais fortes da resposta à TRC, mesmo após levar em consideração a morfologia do bloqueio do ramo.
A possível razão para isso pode ser que a duração do QRS apresente correlação significativa com a massa do ventrículo esquerdo (VE), seu diâmetro, volume e comprimento, independentemente da presença do bloqueio do ramo.
Hoje, numerosos estudos já exploraram as alterações médias e percentuais na largura do QRS entre aqueles que respondem e os que não respondem à terapia com TRC e também a magnitude das estimativas dos efeitos com relação à associação da largura do QRS. com a incidência da resposta ecocardiográfica à TRC que podem ser variada.
Portanto, essa revisão sistemática e meta análise atuais foram realizadas com base em estudos observacionais publicados para avaliar a associação de alterações na largura do QRS antes e após a TRC com a incidência de respostas ecocardiográficas ao implante do dispositivo.
Pesquisas sistemáticas foram realizadas no PubMed, Embase e na Biblioteca Cochrane na procura de estudos relevantes que investigassem alterações na largura do QRS com a incidência de resposta ecocardiográfica à TRC desde o início do ano até maio de 2019. A diferença de média ponderada (DMP) combinada com um intervalo de confiança de 95% (IC), foi calculado usando o modelo de efeitos aleatórios.
Cinco estudos prospectivos e seis estudos retrospectivos, com um total de 1524 pacientes, foram selecionados para a análise final.
A redução na largura do QRS nos respondedores foi significativamente maior que nos não respondedores (DMP: -20,54 ms; IC 95%: -26,78 a -14,29; P <0,001).
Além disso, os respondendores foram associados a uma redução percentual maior na largura do QRS em comparação com aqueles que não responderam (DMP: -8,80%; IC95%: -13,08 a -4,52; P <0,001).
Finalmente, a mudança média na largura do QRS entre respondedores e não respondedores diferiu quando estratificada por país, desenho do estudo, idade média, porcentagem de homens, fração de ejeção, tempo de medição pós-implantado do QRS, cardiomiopatia isquêmica, fibrilação atrial e qualidade do estudo
Em conclusão, os autores afirmam que esses achados indicaram que o encurtamento da largura do QRS após o implante do dispositivo de TRC mostrou associação com maior incidência de respostas ecocardiográficas positivas à ressincronização.
Estudos prospectivos maiores devem ser realizados para avaliar os valores prognósticos da largura do QRS na incidência da resposta ecocardiográfica à TRC.
* Ma J, Liu Y, Dong Y, Chen M, Xia L, Xu M. Association between changes in QRS width and echocardiographic responses to cardiac resynchronization therapy: A systematic review and meta-analysis. Medicine (Baltimore). 2020 Jan;99(2):e18684. doi: 10.1097/MD.0000000000018684.