Isquemia e Fenocópia de Brugada

Na edição de 28 de Março, o PACE publicou um artigo com  resultados do Registro Internacional de Fenocópia de Brugada (www.brugadaphenocopy.com) no qual os autores discutiram a relação entre essas fenocópias e isquemia do miocárdio *. 

O conceito de fenocópia refere-se à presença de uma condição ambiental que imita outra produzida por um gene.

O diagnóstico Fenocópia de Brugada observa-se quando uma condição clínica determina a aparência no padrão do eletrocardiograma idêntica à observada no ECG típico do portador real de Padrão de Brugada, semelhança eletrocardiográfica que desaparece quando a condição clínica for removida ou solucionada, o teste com bloqueadores de transportadoras do sódio é negativo e a genética igualmente.

Além disso, lembra-se que a Síndrome de Brugada – (BrS: Brugada Syndrome, sigla em inglês) – por definição é o padrão típico no ECG, espontâneo ou provocado por drogas com arritmia documentada ou síncope – é uma canalopatia iônica hereditária que predispõe os portadores a arritmias malignas e morte cardíaca súbita (MSC).

A alteração que se manifesta no eletrocardiograma pode apresentar de duas formas: 1. O padrão Tipo 1 (“côncavo”) é caracterizada por uma elevação do segmento ST em precordiais direitas (V1-V3), seguido por um segmento ST descendente levemente côncavo ou retilíneo e uma onda T negativa. 2. O padrão Tipo 2 caracterizado por uma elevação da onda R’ seguida do segmento ST também elevado e onda T e positiva em V2 com aparência de sela de montaria.

Em síntese: as fenocópias Brugada (BrP- Brugada Phenocopy, em inglês) são situações clínicas com alterações eletrocardiográficas caracterizadas por padrões de ECG idênticos aos encontrados em BrS, causadas por várias condições clínicas. Ao resolver ou desaparecer a condição subjacente o padrão de ECG é normalizado.

Dado o baixo rendimento diagnóstico da genética em “BrS verdadeiro” o teste genético não é um critério obrigatório para o diagnóstico ou identificação de BrP.

A isquemia miocárdica geralmente induz uma série de alterações de ECG, incluindo ST e T produzindo modulações ou alterações nas derivações V1 a V3 simulando o padrão da BrS no ECG.

O objetivo deste estudo foi identificar as características clínicas da fenocópia induzida por isquemia e analisar sua evolução.

Os dados são de 17 casos de isquemia induzindo BrP obtidos a partir do Registo Internacional (www.brugadaphenocopy.com) de Fenocópias de Brugada.

Dos pacientes incluídos neste estudo, 71% eram homens. A idade média foi de 59 ± 11 anos (variação 38-76).

O ECG padrão tipo 1 Brugada ocorreu em 15/17 (88%) de casos, enquanto noutros 2/17 (12%) foi observado um padrão de tipo 2 Brugada ECG.

Em todos os casos, o padrão de Brugada ECG foi resolvido corrigindo a isquemia, indicando que a isquemia foi a indutora da alteração da BrP.

Nenhum evento arrítmico foi detectado de forma aguda ou durante o acompanhamento. O tempo relatado para a resolução variou de 2 minutos a 5 horas.

Teste com drogas provocadoras de padrão de BrS foram realizados utilizando agentes bloqueadores do canal de sódio em 7/17 casos (41% da população), e todos falharam em induzir um padrão do ECG da BrS, comprovando serem BrP (Brugada Phenocopy, classe A).

Os restantes 10/17 casos (59%) não foram submetidos a testes provocativos devido a várias razões clínicas.

Como conclusão, os autores observam que a isquemia miocárdica é uma etiologia comumente relatada de BrP. Importante destacar que este estudo não encontrou nenhuma associação entre BrP por isquemia do miocárdio e morte súbita, ou arritmias ventriculares cardíacas malignas induzidas.

* * Xu G, Gottschalk BH, Pérez-Riera A, Barbosa-Barros R, Dendramis G, Carrizo AG, Agrawal S, Bayés de Luna A, Jastrzębski M, Tomcsányi J, Baranchuk A. Link between Brugada Phenocopy and myocardial ischemia: Results from the International Registry on Brugada Phenocopy. Pacing Clin Electrophysiol. 2019 Mar 28. doi: 10.1111/pace.13678. [Epub ahead of print]