Na versão on line do JICE (Journal of Interventional Cardiac Electrophysiology), órgão oficial do LAHRS, setembro 2019, já disponível, foi publicado um artigo de autores canadenses que analisa os resultados após 11 anos de experiência sobre o efeito da radioterapia utilizada em pacientes com dispositivos eletrônicos cardiovasculares implantáveis (CIED = Cardiac Impantable Electronic Dispositives, sigla em inglês).
Os autores afirmam ao introduzir o tema, que devido ao fato dos dispositivos eletrônicos cardiovasculares implantáveis estarem cada vez mais indicados em pacientes idosos e desde que a carga de câncer aumenta com o envelhecimento da população, o manejo de pacientes com dispositivos cardíacos que exigem radioterapia (RT) é uma preocupação oportuna.
Sabe-se que a radiação pode causar mau funcionamento dos CIEDs, desde estimulação de saída alterada e programação de restaurações até falha do dispositivo, embora complicações significativas dos CIEDs devido à RT sejam raras.
Não existem diretrizes universais sobre RT segura em pacientes com o uso do CIED e, no contexto das inconsistências nas instruções do fabricante, há como resultado, variação apreciável na prática clínica.
De fato, uma pesquisa recente descobriu que apenas 39% dos departamentos de radiologia oncológica têm políticas sobre os CIEDs e 18% gerenciam esses pacientes sem qualquer orientação do departamento de cardiologia.
Por essa razão, a importância da colaboração e comunicação contínuas entre os departamentos de oncologia e cardiologia tem sido destacada em toda a literatura.
De acordo com o conhecimento dos autores, não foram publicados textos que detalhem um fluxo de trabalho formal para o tratamento de pacientes com ICIE que necessitem de RT.
O Centro de Ciências da Saúde de Kingston (KHSC: Kingston Health Science Center, sigla em inglês) da Universidade de Kingston, Canadá, implementou um processo em 2007 para padronizar a comunicação entre a Clínica de Dispositivos de Frequência Cardíaca (CRDC: Cardiac Rate Dispositives Clinic, sigla em inglês) e o Departamento de Radioterapia Oncológica para o atendimento interdisciplinar desses pacientes.
O protocolo foi formalmente documentado nas diretrizes de prática interna a fim de: 1. Garantir que pacientes com CIED recebam tratamento seguro quando necessitarem de RT; 2. Minimizar o risco de falha do dispositivo quando a RT é administrada.
Este manuscrito descreve o protocolo da KHSC para o tratamento de pacientes com CIED submetidos a RT e avalia dados de experiência de 11 anos sobre recomendações e sobre o mau funcionamento do dispositivo.
Neste contexto, um estudo retrospectivo de pacientes com CIED que receberam RT no Centro de Ciências da Saúde Kingston de março de 2007 a abril de 2018 foi realizado. Os dados sobre demografia, RT, dispositivos e administração foram comparados para o desfecho primário do mau funcionamento do dispositivo.
Dos 189 pacientes com CIED que receberam um total de 297 aplicações de RT, 4 pacientes (2,1%) apresentaram um mau funcionamento do dispositivo. A maior energia do feixe foi associada a um mau funcionamento (p <0,05).
Os pacientes com disfunções receberam uma dose menor de radiação por fração (267 ± 93 cGy versus 477 ± 282 cGy; p <0,05) e foram significativamente mais jovens (71,4 ± 2,2 anos vs. 77,8 ± 9,8 anos; p <0,01) em comparação com pacientes sem disfunção.
Em conclusão, o mau funcionamento do dispositivo induzido pela RT é raro, mas dadas as possíveis complicações, uma melhor compreensão de possíveis preditores de mau funcionamento e o desenvolvimento de diretrizes baseadas em evidências ajudarão a otimizar a segurança do paciente.
* Yeung C, Hazim B, Campbell D, Gooding J, Li SX, Tam HK, Hopman WM, Chacko S, Redfearn DP, Simpson C, Abdollah H, Baranchuk A. Radiotherapy for patients with cardiovascular implantable electronic devices: an 11-year experience. J Interv Card Electrophysiol. 2019 Sep;55(3):333-341. doi: 10.1007/s10840-018-0506-0. Epub 2019 Jan 3.