Autores alemães publicaram no Europace, maio de 2018, os resultados de suas pesquisas sobre a prevalência de arritmias malignas e morte súbita cardíaca na TTS em sua evolução e complicações*.
Destacaram em seu trabalho que a TTS foi descrita pela primeira vez em 1990 e caracterizada por uma condição aguda frequentemente transitória, com disfunção sistólica segmentar da parede ventricular esquerda (Balonamento apical do Ventrículo Esquerdo (VE)) e outras anormalidades hiper ou hipocinéticas em locais variáveis do VE. Tendo quadros clínicos de insuficiência cardíaca aguda, insuficiência coronária aguda, ou ambas, com risco substancial de eventos adversos.
Um sistema de classificação precoce baseado no padrão de balonamento das paredes ventriculares, demonstrado na ecocardiografia transtorácica e angiografia ventricular esquerda, permitiu a distinção e classificação de grupos específicos dos pacientes.
A apresentação apical é a variante mais comum (81,7%), seguindo-se a forma média ventricular (14,6%), da base (2,2%), e focalmente (1,5%).
O mecanismo fisiopatológico exato para a anormalidade do movimento seletivo da parede na ausência de estenose coronariana significativa permanece desconhecido.
Os pacientes geralmente apresentam sintomas iniciais, como dor torácica e dispneia, que mimetizam uma síndrome coronariana aguda (SCA).
As TTS também pode ocorrer em alguns casos, com algumas complicações críticas, tais como insuficiência cardíaca, arritmias graves com risco vital (LTA-Life Threatening Arrhythmias–) como: VT (Ventricular Tachycardia), VF (Ventricular Fibrillation), QT longo adquirido e TDP (Torsades de pointes), AF (Atrial Fibrillation) e Atividade Elétrica sem Pulso (PEA – Pulseless Eletric Activity) além de eventos tromboembólicos, recorrência da TTS, obstrução do fluxo de saída do ventrículo esquerdo (VE), insuficiência da válvula mitral ou falha cardíaca global e a ruptura cardíaca.
Arritmias com risco de vida foram relatadas em até 14% dos casos de TTS, principalmente no contexto de prolongamento do QTc.
A descrição detalhada da prevalência das complicações mediatas e imediatas, taxa de recorrência a longo prazo, impacto e consequências das arritmias com risco de vida associados com a TTS, no entanto, são, infelizmente, limitadas pela falta de dados científicos.
O estudo alemão foi realizado para suprir este hiato e determinar a prevalência a curto e a longo prazo, taxa de recorrência e o impacto de arritmias potencialmente fatais no desfecho clínico da TTS.
O banco de dados institucional constituiu um grupo de 114 pacientes diagnosticados com TTS entre 2003 e 2015.
Os grupos de pacientes foram divididos de acordo com a presença (n = 13; 11,4%) ou ausência (n = 101, 88,6%) de LTA e seguidos ao longo de um período de 3 anos para determinar o resultado clínico.
Os resultados da análise indicaram que os pacientes com presença de LTA haviam tido antes da TTS significativamente mais frequentemente um evento cardiovascular agudo incluindo casos de diagnóstico recente de fibrilação atrial (38,4% versus 2,9%), choque cardiogênico com uso de agentes inotrópicos 53,8% vs. 14,8%) e ressuscitação cardiopulmonar (61,5% vs. 1%).
A taxa de recorrência de curto prazo de um episódio de LTA foi de 15,3%, enquanto a taxa de recorrência a longo prazo de qualquer LTA foi de cerca de 5%.
Embora a mortalidade intra-hospitalar tenha sido significativamente maior no TTS associado a LTA, não houve diferença na taxa de sobrevida global dos dois grupos.
Uma análise de regressão multivariada de Cox sugeriu que fibrilação atrial, FE ≤ 35%, choque cardiogênico e taxa de filtração glomerular <60 ml / min, foram preditores independentes de desfechos adversos.
Os autores concluíram que a prevalência e recorrência de LTA a curto e longo prazo é elevada (11,4%) em pacientes com TTS indicando necessidade de estudo para avaliar a utilização de dispositivos, tais como desfibrilador implantável e pacemaker, neste grupo de doentes. As taxas de mortalidade em longo prazo foram semelhantes às dos pacientes com TTS que não apresentavam LTA podendo tais taxas terem sido equalizadas pela fibrilação atrial concomitante.
* El-Battrawy I, Lang S, Ansari U, Tülümen E, Schramm K, Fastner C, Zhou X, Hoffmann U, Borggrefe M, Akin I. Prevalence of malignant arrhythmia and sudden cardiac death in takotsubo syndrome and its management. Europace. 2018 May 1;20(5):843-850. doi: 10.1093/europace/eux073.