Pesquisadores do Cardiovascular Institute da University of California, San Diego, EUA publicaram na edição de setembro de 2020 do JICE (Journal of Interventional Cardiac Electrophysiology) os resultados de sua experiência na observação de arritmias ventriculares em pacientes com dispositivos de assistência biventricular * .
Os autores estimam que a insuficiência cardíaca afete 5,8 milhões de pessoas nos EUA, e espera-se infelizmente que essa incidência aumente, apesar dos avanços surgidos com novas terapias por drogas, dispositivos médicos e eletrônicos. No entanto, a mortalidade e a morbidade permanece alta em pacientes com insuficiência cardíaca avançada.
Dada a escassez de doadores disponíveis para transplante, o uso de dispositivos de assistência ventricular (VADs: Ventricular Assistants Dispositives) cresceu substancialmente ao longo dos anos.
Arritmias ventriculares (AVs) são comorbidades comuns em pacientes com dispositivos de assistência ventricular esquerda (LVAD = Left Ventricular Assistants Devices), apresentando taxas que variam entre 20% e 50%.
Foi relatado que esses eventos ocorrem com mais frequência nos primeiros 30 dias após a colocação do dispositivo de assistência ventricular esquerda (LVAD), e as AVs de início precoce foi associado a aumento da mortalidade.
Em pacientes com insuficiência ventricular direita concomitante, dispositivos de assistência biventricular (BIVADs = Biventricular Assistants Dispositives) cada vez mais duráveis estão sendo implantados com resultados promissores.
Atualmente, existem dados limitados sobre a prevalência e os resultados das AVs em pacientes com BIVADs. Embora AVs possam ser tolerados em curto prazo devido ao suporte hemodinâmico fornecido pelo BIVAD, há a hipótese de que os pacientes com AV clinicamente significativa após a colocação do BIVAD podem ter resultados piores em comparação com aqueles sem AV.
O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de AV clinicamente significativa após a colocação de BIVAD em comparação com uma população com LVAD de propensão compatível e avaliar resultados clínicos adversos em pacientes com BIVAD com e sem AV.
Para tanto, foi realizado um estudo de coorte retrospectivo de pacientes com BIVAD para avaliar a prevalência de AV e seus resultados clínicos.
Pacientes consecutivos que receberam BIVAD entre junho de 2014 e julho de 2017 no foram recrutados no centro médico onde trabalham os autores.
A prevalência de AV, definida como taquicardia ventricular sustentada ou fibrilação exigindo desfibrilação ou terapia com CDI, foi comparada entre pacientes com BIVAD e uma população de pacientes com LVAD com a mesma propensão. O aparecimento de eventos clínicos adversos foi comparado entre pacientes BIVAD com e sem AV.
De 13 pacientes com BIVAD, 6 pacientes (46%) experimentaram AV clinicamente significativa, semelhante a uma população de LVAD de propensão compatível (38%, p = 1,00). Não houve diferenças nas características basais entre as duas coortes, exceto os pacientes do grupo sem AV que tinham pior hemodinâmica (regurgitação mitral e índices do lado direito), tinham menos história de AV e eram mais jovens.
Pacientes BIVAD com VA tiveram uma incidência superior de sangramento maior (MR 3,05 (1,07–8,66), p = 0,036) e resultados piores combinados (teste log-rank, p = 0,046). A presença de AV foi associada a piores resultados nos grupos LVAD e BIVAD.
Como conclusões, os autores apontam que arritmias ventriculares são comuns em pacientes com BIVAD e estão associadas a piores desfechos. Trabalhos futuros devem avaliar se terapias como a ablação melhoram o resultado de pacientes BIVAD com AV.
* Lin, A.Y., Tran, H., Brambatti, M. et al. Ventricular arrhythmias in patients with biventricular assist devices. J Interv Card Electrophysiol 58, 243–252 (2020). https://doi.org/10.1007/s10840-019-00682-0