Remodelação atrial esquerda a longo prazo após ablação de fibrilação atrial persistente

Pesquisadores alemães de Berlim publicaram na edição de junho de 2020 do JICE os resultados de um estudo de ressonância magnética após 7 anos de acompanhamento de um grupo de pacientes para avaliar a remodelação atrial esquerda a longo prazo após a ablação de fibrilação atrial persistente (ps. AF) *.

Para introduzir o tópico, os autores afirmam que essa arritmia leva à remodelação atrial por meio de um processo fisiopatológico ainda não totalmente esclarecido.

Dados experimentais e estudos clínicos indicam que estresse oxidativo, sobrecarga de cálcio, atividade da enzima conversora de angiotensina 2, dilatação atrial, inflamação e ativação de miofibroblastos são fatores causais importantes para a remodelação atrial contínua.

O tratamento ablativo bem sucedido da FA pode induzir remodelação atrial reversa que é evidente dentro de semanas ou meses após a restauração do ritmo sinusal.

No entanto, há uma escassez de dados sobre o efeito a longo prazo em termos de remodelação atrial reversa, ou seja, 5 anos ou mais após a ablação dos pqcientes com FA.

O objetivo do estudo foi avaliar o efeito da terapia ablativa com restauração do ritmo sinusal em relação às características estruturais e funcionais do átrio esquerdo e do ventrículo esquerdo após um longo período de acompanhamento de 7 anos.

O efeito do tratamento ablativo na remodelação cardíaca após um longo período de acompanhamento de 7 anos foi avaliado por ressonância magnética cardiovascular (RM).

Pacientes com FA sintomática foram submetidos a RMC dentro de 7 dias antes do procedimento de ablação. Os volumes atrial e ventricular esquerdo foram medidos. Todos os pacientes foram submetidos a isolamento circunferencial da veia pulmonar. No final do seguimento (FU-follow up, sigla em inglês), foram realizadas uma RMC e uma gravação de ECG de 7 dias.

42 pacientes (67 ± 9 anos) foram incluídos. Após um FU de 86 ± 13 meses, 23 pacientes tiveram um resultado bem-sucedido. Nesses pacientes, a FEVE melhorou de 56 ± 5 para 62 ± 4% (p = 0,02), mas o volume do átrio esquerdo e a fração de ejeção (LAV, LAEF) permaneceram inalterados (105 ± 25 a 98 ± 34, p = 0,44; 34 ± 10 a 36 ± 11, p = 0,6, respectivamente).

Em 14 pacientes com IMC <30 e sem hipertrofia ventricular esquerda (HVE), o vplome atrial esquerdo (LAV = Left Atrial Volume, sigla em inglês) diminuiu (104 ± 30 a 82 ± 26 ml, p = 0,01) e a Fração de Eeção do Atrio Esquerdo (LAEF = Left Atrial Ejection Fraction, sigla em inglês) melhorou (33 ± 12 a 40 ± 11%, p = 0,03).

Em 9 pacientes com resultados bem-sucedidos e IMC ≥ 30 ou HVE, o LAV aumentou (110 ± 26 a 125 ± 30 ml, p = 0,03) e o LAEF se deteriorou (35 ± 11 a 31 ± 10%, p = 0,04) .

Como conclusões desses achados, os autores apontam que o tratamento ablativo bem sucedido da fibrilação atrial está associado ao remodelamento atrial esquerdo reverso e à melhora da função atrial esquerda e ventricular. Em pacientes com IMC ≥30 ou hipertrofia ventricular esquerda, ocorre um aumento maior do átrio esquerdo, apesar do resultado bem-sucedido.

* Kriatselis C, Unruh T, Kaufmann J, et al. Long-term left atrial remodeling after ablation of persistent atrial fibrillation: 7-year follow-up by cardiovascular magnetic resonance imaging. J Interv Card Electrophysiol. 2020;58(1):21‐27. doi:10.1007/s10840-019-00584-1