Um estudo observacional retrospectivo realizado no Reino Unido sobre infecções por dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis (CIED = Cardiac Implantable Eletronic Dispositive, sigla em inglês) relatou que eles são expensivos e estão associados a hospitalizações prolongadas. Estas conclusões foram publicadas em 2 de janeiro pela PLoS One *
Os autores ingleses confirmam o intensificado aumento das taxas de implantação de dispositivos cardíacos eletrônicos (CIEDs) na última década.
Paralelamente, as taxas de infecção desses dispositivos também estão aumentando e associadas a significativa morbimortalidade.
Em 2011, o custo médio do tratamento médico e cirúrgico combinado para uma única infecção por CIED nos Estados Unidos variou de US $ 28.676 a US $ 53.349 (média aproximada de vinte e oito a cinquenta e três mil dólares), dados obtidos de uma discriminação detalhada dos custos e do impacto econômico no tratamento dessas infecções nos Estados Unidos. No Reino Unido ainda não havia, à época, análise desses óbices e seus custos.
Além do custo do dispositivo, existem várias fontes de despesas potenciais: cursos prolongados de antibióticos, marcapassos temporários, explantação de cardiodesfibriladores (CDIs) e internamento para monitoramento, marca-passo definitivo ou um desfibrilador portátil (Lifevest), projetado para detectar e tratar arritmias com risco de vida, dependendo do reimplante do dispositivo.
Um estudo de 2014 relatou que o custo médio da infecção por CIED no Reino Unido era de £ 30.958 (31 mil libras aproximadamente) com um tempo médio de permanência hospitalar (LOS) de 29,9 dias. Ressalte-se que o estudo além de pequeno, medir o custo da infecção não era o objetivo principal.
Os autores afirmam que diferentes estratégias estão surgindo para o manejo desses pacientes; alguns passam por um procedimento de “estágio único”, no qual o dispositivo infectado é removido e um novo dispositivo é reimplantado durante o mesmo procedimento.
Essa abordagem tem o risco potencial de reinfecção do novo dispositivo e como consequência o centro a que pertencem os autores – Manchester Heart Center, Manchester University, Manchester, Reino Unido – adotou um procedimento de “dois estágios” para todos os pacientes, no qual um período de antibioticoterapia é instituído após a extração, e o novo dispositivo é reimplantado posteriormente.
Com essa estratégia, alguns pacientes são reimplantados na hospitalização “reimplante precoce” (ER = Early Reimplant, sigla em inglês) para explantação, enquanto outros recebem alta e retornam posteriormente, para reimplante, “reimplante tardio” (DR = Delayed Reimplant, sigla em inglês).
Uma estratégia de recuperação da complicação é frequentemente considerada quando os pacientes apresentam sinais persistentes de infecção, incluindo a cicatrização tardia do local do primeiro implante, enquanto aguardam o reimplante.
Dadas essas considerações, o objetivo dos autores foi determinar o custo médio do tratamento da infecção dos CIEDs em um grande centro de referência terciária no Reino Unido e comparar o custo de uma estratégia de ER versus DR.
Para isso, eles analisaram retrospectivamente os dados dos custos e tempo de permanência hospitalar (LOS) de pacientes consecutivos submetidos à extração de CIEDs infectados, sejam eles pacientes com terapia de ressincronização cardíaca (CRT-D (com desfibrilador), CRT-P [com marcapasso]), cardiodesfibriladores implantáveis (CDI) e ou marcapassos permanentes (PPM Permanents Pace Makes).
Entre janeiro de 2013 e março de 2015, estavam disponíveis dados completos para 84 pacientes (18 [21,4%] TRC-D, 24 [28,6%] DCI e 42 [50,0%] PPM).
Quando todos os casos foram considerados, o custo da infecção variou de £ 5.139 (PPM) a £ 24.318 (CRT-D).
Considerando diferentes estratégias de tratamento; 41 (48,8%) foram submetidos à extração e reimplante do CIED durante a mesma admissão (estratégia de reimplante precoce (ER) e 43 (51,2%) foram submetidos à extração, mas receberam alta para serem readmitidos posteriormente para reimplante (estratégia de reimplante tardio (DR)).
O tempo médio de internamento (LOS foi significativamente menor no DR comparado ao ER (5,0 vs. 18,0 dias, p <0,001).
O custo total do episódio de infecção pelo CIED foi semelhante para as duas estratégias de tratamento (mediana £ 14.241,48 vs. £ 14.741,70, incluindo o desfibrilador portátil (Lifevest) e os custos de antibióticos ambulatoriais, ER vs. DR; p = 0,491).
Como conclusão, os autores afirmam que as infecções por esses dispositivos são caras e estão associadas a uma carga econômica e de morbidade significativas. Quando todos os tipos de dispositivos foram considerados, uma estratégia de recuperação de complicações está associada a uma redução no LOS sem um aumento maior nos custos.
* Ahmed FZ, Fullwood C, Zaman M, Qamruddin A, Cunnington C, Mamas MA, Sandoe J, Motwani M, Zaidi A. Cardiac implantable electronic device (CIED) infections are expensive and associated with prolonged hospitalisation: UK Retrospective Observational Study. PLoS One. 2019 Jan 2;14(1):e0206611. doi: 10.1371/journal.pone.0206611. eCollection 2019.