A terapia de ressincronização cardíaca – TRC (CRT- Cardiac Resyncronization Therapy, sigla em inglês) com um desfibrilador (CRT-D = Desfibrilator) demonstrou benefícios em desfechos clínicos em pacientes com insuficiência cardíaca (IC), os quais são principalmente limitados aos pacientes com bloqueio de ramo esquerdo (BRE) no ECG convencional.
Em julho de 2018, pesquisadores da Rússia, EUA e Suécia publicaram no American Journal of Cardiology os resultados de um ensaio clínico randomizado multicêntrico que propôs analisar a utilidade do achado de uma anormalidade eletrocardiográfica correspondente a alteração do átrio esquerdo para predizer a resposta à terapia de ressincronização cardíaca em pacientes com insuficiência cardíaca leve e bloqueio de ramo esquerdo através de um sub-estudo dos pacientes que receberam implante de desfibrilador automático associado à terapia de ressincronização cardíaca *.
Os vários estudos de TRC mostraram que a resposta clínica à TRC varia no grupo de receptores de TRC com BRE, o que estimula os esforços contínuos para melhorar a estratificação de risco antes do procedimento.
O ECG pode ser usado como uma importante fonte de informação prognóstica. Embora as abordagens de ECG baseadas na estimativa da largura do QRS sejam amplamente utilizadas, pouco se sabe sobre o valor prognóstico das características da onda P neste contexto.
A força terminal de P na derivação V1 – FTP-V1 (PTF-V1: P Terminal Force on V1) faz parte do conceito de “anormalidade atrial esquerda (AAE)” e tem mostrado valor prognóstico em estudos epidemiológicos.
Os mecanismos subjacentes aos valores aumentados de FTP-V1 foram estudados de forma incompleta, no entanto, a associação de FTP-V1 com fibrose ventricular esquerda (VE) e átrio esquerdo foi recentemente demonstrada.
A FTP-V1 provavelmente reflete o grau de remodelamento atrial secundário à insuficiência cardíaca, o que justifica a avaliação de seu papel na previsão dos resultados.
Nesta sub-análise do estudo MADIT-CRT, a presença de FTP-V1 foi avaliada como um marcador de AAE em pacientes com IC tratados com CRT-D, e seu papel na previsão do resultado clínico durante o seguimento de longo prazo.
Os eletrocardiogramas convencionais (12 derivações) de base registrados em repouso nos 941 pacientes inscritos no braço do CRT do Estudo Multicêntrico de Implante de Desfibrilador Automático com Terapia de Ressincronização Cardíaca (MADIT-CRT) foram processados automaticamente usando o algoritmo de Glasgow, que incluiu a avaliação automática da força terminal da onda P na derivação V1 (FTP-V1) como um marcador de AAE.
Uma FTP-V1 de ≥ 0,04 mm foi considerada anormal. O desfecho primário foi um evento de insuficiência cardíaca e ou morte.
A mortalidade total e as terapias apropriadas para desfibriladores foram os desfechos secundários. No início do estudo, 550 pacientes tratados com TRC com desfibrilador apresentavam morfologia do QRS e típica de BRE e do PTF-V1.
A ausência de FTP-V1 foi associada a uma redução de risco significativa para todos os endpoints avaliados e para o endpoint primário ela incluiu uma razão de risco de 0,55 (intervalo de confiança de 95%: 0,36 a 0,84) em comparação com pacientes com BRE de FTP-V1 anormal (n = 120) e razão de risco de 0,42 (intervalo de confiança de 95%: 0,32 a 0,55) em comparação com pacientes com desfibrilador implantado ( n = 729).
Em pacientes tratados com TRC com insuficiência cardíaca, a anormalidade eletrocardiográfica do AE parece ser um indicador eletrocardiográfico de mau prognóstico a longo prazo em pacientes com BRE.
Em conclusão, esses dados sugerem que a FTP-V1 possui informações prognósticas aditivas no contexto da TRC, o que fortalece ainda mais o papel do diagnóstico eletrocardiográfico na estratificação de risco de pacientes com insuficiência cardíaca.
* Baturova MA, Kutyifa V, McNitt S, Polonsky B, Solomon S, Carlson J, Zareba W, Platonov PG. Usefulness of Electrocardiographic Left Atrial Abnormality to Predict Response to Cardiac Resynchronization Therapy in Patients With Mild Heart Failure and Left Bundle Branch Block (a Multicenter Automatic Defibrillator Implantation Trial with Cardiac Resynchronization Therapy Substudy). Am J Cardiol. 2018 Jul 15;122(2):268-274. doi: 10.1016/j.amjcard.2018.03.364. Epub 2018 Apr 11.