Uso de antiarrítmicos em “parada cardíaca”

Uma publicação recente da American Heart Association (AHA) analisou uma atualização das diretrizes para ressuscitação cardiopulmonar (CPR-Cardio Pulmonary Ressuscitation) e cuidados cardiovasculares emergenciais em relação ao uso de drogas antiarrítmicas para suporte avançado de vida cardiovascular (ACLS) durante e imediatamente após a parada cardíaca *.

 

O mesmo foi comentado em 4 de janeiro no Blog da Sociedade Espanhola de Cardiologia, em um artigo da Dra. Cristina González Cambeiro, sob o título“Antiarrítmicos em suporte avançado de vida” **.

 

Como é bem conhecido, as drogas antiarrítmicas são frequentemente administradas durante e imediatamente após a fibrilação ventricular, taquicardia ventricular, atividade elétrica sem pulso ou parada cardíaca, embora não esteja claro se essas medicações melhoram os resultados dos pacientes.

 

Esta atualização focada nas diretrizes avançadas de suporte vital cardiovascular (ACLS) para a ressuscitação cardiopulmonar (CPR) e atendimento cardiovascular de emergência (CEC) da AHA, baseia-se na revisão sistemática da terapia anti-arrítmica dos: “Consenso Internacional 2018”,  “Ciência Com Recomendações de Tratamento” (COSTR) para RCP e Task Force ECC em Apoio Avançado de Vida (ELA) da International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR) referindo-seexclusivamente a recomendações para o uso de antiarrítmicos durante e imediatamente após fibrilação ventricular (FV), taquicardia ventricular sem pulso (TVSP) ou parada cardíaca no adulto

 

Todas as outras recomendações e algoritmos do Suporte Avançado de Vida continuam sendo as recomendações oficiais do ACLS da AHA.

 

O texto indica que é improvável que um fármaco antiarrítmico converta farmacologicamente a FV ou TVSP em ritmo de perfusão organizado.

 

Em vez disso, o principal objetivo da terapia com drogas antiarrítmicas em FV / TVSP refratária ao choque é facilitar a desfibrilação bem-sucedida e reduzir o risco de arritmias recorrentes.

 

Em combinação com a administração de choque, os antiarrítmicos podem facilitar a restauração e a manutenção de um ritmo de perfusão espontâneo. Algumas drogas antiarrítmicas têm sido associadas a maiores taxas de retorno à circulação espontânea (RCE) e internação hospitalar, mas nenhuma delas demonstrou aumentar a sobrevida a longo prazo ou a sobrevida com bom resultado neurológico.

 

Portanto, o estabelecimento de acesso vascular para permitir a administração de medicamentos não deve comprometer o desempenho da RCP ou a desfibrilação oportuna, que está associada a melhor sobrevida após a parada cardíaca.

 

A sequência ideal de intervenções no ACLS, incluindo a administração de drogas antiarrítmicas durante a ressuscitação, a forma e o momento de administração preferidos da droga em relação ao fornecimento de choque ainda não são conhecidos.

 

O documento contém duas seções que desenvolvem a recomendação:

 

a) Recomendações para o uso de drogas antiarrítmicas durante a ressuscitação de parada cardíaca em FV / TVSP em adultos sobre o uso de amiodarona e lidocaína.

 

Amiodarona ou lidocaína podem ser consideradas para FV / TVSP que não respondem à desfibrilação. Esses medicamentos podem ser particularmente úteis para pacientes com o episódio testemunhado, nos quais o tempo de administração do medicamento pode ser menor (Classe IIb, Nível de Evidência B-R). Neste ponto, a atualização incorpora a consideração para lidocaína desde que nas recomendações prévias só considerou amiodarona.

 

Em relação ao uso rotineiro de magnésio para parada cardíaca, não é recomendado em pacientes adultos (Classe III: Sem benefícios, Nível de evidência C-LD). O magnésio, no entanto, pode ser considerado para torsades de pointes (isto é, TV polimórfica associada ao intervalo QT longo) (Classe IIb; Nível de evidência C-LD). A redação desta recomendação é consistente com as diretrizes do ACLS 2010 da AHA.

 

b) 2018 recomendações para drogas antiarrítmicas após parada cardíaca.

 

Não há evidências suficientes para apoiar ou refutar o uso rotineiro de um β-bloqueador precoce (na primeira hora) após o ROSC.

 

Também não há evidências suficientes para apoiar ou refutar o uso rotineiro de lidocaína no início (na primeira hora) após a RCP.

 

No entanto, na ausência de contra-indicações, o uso profilático de lidocaína pode ser considerado em circunstâncias específicas (tal como durante o transporte de serviços médicos de emergência) quando o tratamento da FV ou TVSP recorrente pode ser um desafio (IIb; LOE C- LD).

 

* Ashish R. Panchal, Katherine M. Berg, Peter J. Kudenchuk, Marina Del Rios, Karen G. Hirsch, Mark S. Link, Michael C. Kurz, Paul S. Chan, José G. Cabañas, Peter T. Morley, Mary Fran Hazinski, Michael W. Donnino. 2018 American Heart Association Focused Update on Advanced Cardiovascular Life Support Use of Antiarrhythmic Drugs During and Immediately After Cardiac Arrest: An Update to the American Heart Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Originally published 5 Nov 2018 Circulation. 2018;138:e740-e749

 

** Cristina González Cambeiro, ¿Antiarrítmicos en el soporte vital avanzado? Blog de la SEC. https://secardiologia.es/multimedia/blog/10148-antiarritmicos-en-el-soporte-vital-avanzado