Remodelação atrial e ablação da FA

Na edição on-line de 22 de junho do Journal of Interventional Cardiac Electrophysiology (JICE), autores alemães publicaram os resultados de suas observações após 7 anos de acompanhamento para avaliar a remodelação atrial esquerda a longo prazo após a ablação da fibrilação atrial persistente por ressonância magnética*.

Eles apontam na introdução do tópico que a fibrilação atrial persistente leva à remodelação atrial por meio de um processo fisiopatológico ainda não totalmente esclarecido.

Dados experimentais e estudos clínicos indicam que estresse oxidativo, sobrecarga de cálcio, atividade da enzima conversora de angiotensina 2, dilatação atrial, inflamação e ativação de miofibroblastos são fatores causais importantes para a remodelação contínua.

O tratamento ablativo bem sucedido da FA pode induzir remodelação atrial reversa que é evidente dentro de semanas ou meses após a restauração do ritmo sinusal. No entanto, há uma escassez de dados sobre o efeito da ablação na remodelação atrial inversa a longo prazo, ou seja, com 5 anos ou mais.

O objetivo dos autores foi avaliar o efeito da terapia ablativa na restauração do ritmo sinusal em relação às características estruturais e funcionais do átrio esquerdo e do ventrículo esquerdo após um longo período de acompanhamento de 7 anos.

Para esse fim, os pacientes com FA sintomática foram submetidos à RNM (Ressonância Nuclear Magnética) dentro de 7 dias antes do procedimento de ablação. Os volumes atrial e ventricular esquerdo foram medidos. Todos os pacientes foram submetidos a isolamento circunferencial das veias pulmonares. Ao final do acompanhamento EFU (END FOLLOW UP), foram realizados um novo registro de RNM e ECG de 7 dias.

42 pacientes (67 ± 9 anos) foram incluídos. Após um EFU de 86 ± 13 meses, 23 pacientes tiveram um resultado bem-sucedido.

Nesses pacientes, a FEVE (FRAÇÃO DE EJEÇÃO DO VENTRÍCULO ESQUERDO) melhorou de 56 ± 5 para 62 ± 4% (p = 0,02), mas o volume do átrio esquerdo e a fração de ejeção (LAV, LAEF) permaneceram inalterados (105 ± 25 a 98 ± 34, p = 0,44; 34 ± 10 a 36 ± 11, p = 0,6, respectivamente).

Em 14 pacientes com IMC <30 e sem hipertrofia ventricular esquerda (HVE), o LAV (LEFT ATRIAL VOLUME) diminuiu (104 ± 30 a 82 ± 26 ml, p = 0,01) e A LAEF (LEFT ATRIAL EJECTION FRACTION) melhorou (33 ± 12 a 40 ± 11%, p = 0,03).

Em 9 pacientes com resultados bem-sucedidos e com IMC ≥ 30 ou HVE, o LAV aumentou (110 ± 26 a 125 ± 30 ml, p = 0,03) e o LAEF deteriorou-se (35 ± 11 a 31 ± 10%, p = 0,04) .

Como conclusões do que foi observado, os pesquisadores afirmam que o tratamento ablativo bem-sucedido da fibrilação atrial está associado ao melhoramento do remodelamento atrial esquerdo reverso e à melhoria da função atrial e ventricular esquerda e que em pacientes com IMC ≥30 ou hipertrofia ventricular esquerda, houve um aumento maior do átrio esquerdo, apesar do resultado bem-sucedido.

* Charalampos Kriatselis, Tatjana Unruh, Jan Kaufmann,  Jin-Hong Gerds-Li, Sebastian Kelle, Rolf Gebker, Cosima Jahnk, Ingo Paetsch, Burkert Pieske. Long-term left atrial remodeling after ablation of persistent atrial fibrillation: 7-year follow-up by cardiovascular magnetic resonance imaging. Journal of Interventional Cardiac Electrophysiology (2020) 58:21–27 https://doi.org/10.1007/s10840-019-00584-1