Gordura epicárdica, FA e ablação das veias pulmonares

Nos últimos anos tem havido um crescente interesse no papel ativo da gordura epicárdica antes considerada como mera expressão do acúmulo geral de tecido adiposo observado na obesidade.

A este respeito, em junho de 2017, um grupo de pesquisadores colombianos publicaram na Revista Colombiana de Cardiologia os resultados de um estudo onde eles observaram a associação de tecido adiposo epicárdico com fibrilação atrial (FA) e o prognóstico pós ablação das veias pulmonares *.

Os autores abordaram sua proposta com base na consideração da obesidade como um problema de saúde pública.

Fundamentaram-se nas estatísticas mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) descrevem que cerca de 70% dos adultos do mundo são classificados como portadores de sobrepeso ou obesidade, incluindo a população colombiana que tem 60em um desses dois grupos.

Sabe-se que a obesidade é um fator de risco cardiovascular independente, diretamente relacionada com o aumento do risco de desenvolver fibrilação atrial e preocupante pelas consequências negativas que decorrem dessa circunstância.

A obesidade não é uma manifestação estética simples, pois ativa mecanismos inflamatórios, autonômicos, eletrofisiológicos e estruturais que iniciam e sustentam a fisiopatologia de um complexo elo patogênico.

Entre os pacientes obesos, há uma população com maior risco cardiovascular, aqueles com adiposidade visceral, nos quais o acúmulo de tecido adiposo epicárdico é um sinal da manifestação desse perigo.

Além disso, há estudos clínicos demonstrando que o aumento da gordura epicárdica está associado com aumento da carga aterosclerótica, risco de desenvolvimento de fibrilação atrial e maior recidiva desta arritmia pós ablação por cateter.

Dentro dos mecanismos envolvidos nesta relação, que é o contato direto de gordura epicárdica com a superfície do átrio e veias pulmonares, há a ativação de mediadores inflamatórios (IL6, IL1.b ou fator de necrose tumoral-a), que leva a infiltração de gordura no epicárdio e miocárdio, com perda da homogeneidade e organização do miocárdio atrial, alterando a propagação da onda de despolarização e favorecendo a formação de micro-reentrada.

Além disso, esse tecido contém abundantes plexos ganglionares, onde o sistema nervoso autônomo cardíaco intrínseco e extrínseco é integrado, o que desempenha um papel significativo na iniciação e manutenção da fibrilação atrial.

Tem sido demonstrado que os indivíduos com excesso de peso coexistente com fibrilação atrial sintomática, a perda de peso sustentada tem um efeito positivo dose dependente sobre a redução da carga arrítmica e persistência do ritmo sinusal, bem como redução do volume atrial esquerdo e da hipertrofia ventricular esquerda (HVE), o que pode ser explicado por alterações favoráveis nos fatores de risco cardiometabólico e diminuição do estado inflamatório.

Várias técnicas não-invasivas de medição de tecido adiposo epicárdico foram usadas, incluindo ecocardiografia, ressonância magnética e angiotomografia computadorizada (TC); no entanto, não houve fixação de valores de referência, o que limitou uso e ponderação de sua importância.

Este estudo foi realizado com o objetivo de demonstrar a associação do aumento do tecido adiposo nos átrios com a gravidade da fibrilação atrial e sua recidiva após a ablação das veias pulmonares por cateter.

Neste trabalho 170 angiotomografías cardíacas pré ablação por isolamento das veias pulmonares em paciente com história de fibrilação auricular foram revisadas e, finalmente, foram analisados 94, as quais preencheram os requisitos propostos na metodologia da pesquisa.

A espessura do tecido adiposo epicárdico foi quantificada e, juntamente com o índice de massa corporal (IMC), sua relação com os subtipos de fibrilação atrial foi analisada, bem como a ocorrência de recidivas após a ablação.

Com esta metodologia de estudo, observou-se que a maioria da população incluída estava com sobrepeso e obesidade. Ambos os pacientes, obesos e com excesso de peso, tiveram uma espessura significativamente maior do tecido adiposo epicárdico total em comparação com os pacientes com índice de massa corporal normal (p = 0,01).

A espessura da gordura epicárdica também foi significativamente maior em pacientes com fibrilação atrial persistente em comparação àqueles com fibrilação atrial paroxística (p = 0,01).

Nos pacientes que apresentaram recidivas após o procedimento, não foi observada diferença significativa, mas houve uma tendência a ter maior tecido adiposo epicárdico total (p = 0,08).

O aumento do tamanho atrial foi significativamente relacionado à espessura do tecido adiposo epicárdico (p = 0,05). Na análise de regressão logística multivariada, essa relação foi mantida.

Como conclusões do exposto, os autores afirmam que o aumento do tecido adiposo epicárdico está relacionado de forma independente ao sobrepeso e à obesidade, bem como à gravidade e prognóstico da fibrilação atrial.

Deduz-se que estudos prospectivos de coorte com avaliação e estabelecimento de valores de corte normais para a população, bem como a monitorização a longo prazo dos eventos após a ablação por cateter da FA com isolamento das veias pulmonares e intervenções para perda de peso são necessários.

* * Viviana Quintero-Yepes, Mauricio Duque-Ramírez, Pedro Abad-Díaz, Sebastián Isaza-Zapata, Laura Duque-González, Elsa M. Vásquez-Trespalacios, Juan C. Díaz-Martínez, Julián M. Aristizábal, William Uribe. Asociación del tejido adiposo epicárdico con la fibrilación auricular y su pronóstico posterior a la ablación de venas pulmonares

Association of epicardial adipose tissue with atrial fibrillation and prognosis following pulmonary vein ablation. Revista Colombiana de Cardiología Vol. 24. Núm. 3.Mayo – Junio 2017 páginas e9-e14, páginas 199-322. https://www.elsevier.es/es-revista-revista-colombiana-cardiologia-203-articulo-asociacion-del-tejido-adiposo-epicardico-S0120563317300050