Doença de Chagas, taquicardia ventricular e realce tardio na Ressonância magnética.

Pesquisadores mexicanos do Instituto Nacional de Cardiologia Ignacio Chávez e Turku PET Center, University Hospital Turku, da Universidade de Turku, na Finlândia publicaram na edição de 06 de junho do Journal of Cardiovascular Eletrophysiology os resultados de um inquérito conduzido pela comparação da quantidade e os padrões de realce tardio observados na RMN da doença de Chagas de acordo com a presença e o tipo de taquicardia ventricular apresentada por um grupo de pacientes acometidos pela parasitose.

Para introduzir o tema, os autores lembram que a doença de Chagas é uma doença parasitária causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, até recentemente populacional e geograficamente endêmica na América, hoje encontrada para outras partes do mundo devido a migrações populacionais.

Após a fase aguda da doença, a maioria dos pacientes entra em uma fase anteriormente chamada de indeterminada que preferimos chamar de “sem manifestações clínicas da doença“, que pode durar uma vida inteira.

No entanto, até 30% dos pacientes evoluem para uma fase crônica “com manifestações”.

A mais importante e frequente apresentação clínica é a cardiomiopatia chagásica crônica com manifestações (Doença de Chagas -DC), que pode começar insidiosamente como insuficiência cardíaca crônica (ICC) progressiva ou abruptamente com arritmias episódicas ou sustentadas e ou eventos tromboembólicos.

A DC tem uma taxa de mortalidade de 50% após 5 anos, segundo alguns autores.

Alguns preditores de mortalidade foram descritos na DC; as mais consistentes são as classes funcionais propostas pela New York Heart Association (NYHA) e a determinação da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE).

Outros fatores preditivos propostos são a presença de taquicardia ventricular não sustentada (TN-TV) e fibrose miocárdica.

O principal mecanismo de morte súbita nesses pacientes é a degeneração da TV sustentada (TVS) na fibrilação ventricular.

A condução não homogênea em uma área ventricular cicatrizada pode ser o fator desencadeante da TV e sua degeneração pelo mecanismo da macro e ou micro-reentrada

A ressonância magnética (RNM) pode detectar a presença de envolvimento cardíaco em pacientes soropositivos com doença de Chagas, mesmo antes do desenvolvimento de dilatação ou disfunção do ventrículo esquerdo, através da avaliação de realce tardio (LE – Late Enhancement – por sua sigla em Inglês) que é um marcador de fibrose miocárdica (MF – Myocardial Fibrosis – por sua sigla em inglês)

A porcentagem de MF é maior na DC com TV do que naqueles sem a presença de arritmia.

Mello et al descobriram que a distribuição e transmuralidade do LE foi o mais importante preditor da gênese da TV.

Embora o substrato de S-VT e NS-VT pareça ser o mesmo, uma comparação dos resultados da imagem entre esses dois grupos não foi feita.

O objetivo deste estudo foi avaliar a quantidade e os padrões de LE, assim como os parâmetros de função biventricular em pacientes soropositivos com doença de Chagas, e comparar esses parâmetros entre os seguintes grupos:

1) Sem TV – Taquicardia Ventricular

2) TVNS – Taquicardia Ventricular Não Sustentada

3) TVS – Taquicardia Ventricular Sustentada.

A ressonância magnética foi realizada em 54 pacientes soropositivos para doença de Chagas: 8 sem manifestação clínica e 46 com DC, dos quais 15 sem TV, 13 com TVNS e 18 com TV sustentada (TVS).

Havia 31 homens (57%) e a média de idade foi de 55,9 ± 12,2 anos.

O LE foi encontrado em 87% dos pacientes e em 50%, 80% e 100% dos grupos sem manifestação, sem TV e TV, respectivamente.

A porcentagem de LE aumentou progressivamente de pacientes sem manifestação, DC sem TV e DC com TV; sem diferença significativa entre a TVNS e TVS (0,93%, 15,2%, 23,2% e 21,4%, respectivamente).

A quantidade de LE aumentou com a classe funcional. O LE na parede lateral média e média foi mais frequente na TV, sem diferenças entre o TVNS e a TVS.

O único fator preditivo da TV foi a porcentagem de LE, OR 6,2 (IC 95% 3,7-28,4) p = 0,01 com um limite de 17,1%.

Como conclusões, os autores apontam: 1- A dimensão da área de LE aumenta em relação ao estágio clínico da doença e sua classe funcional em pacientes soropositivos. 2 – A dimensão da área de LE foi o principal preditor de TV, sem diferenças entre a TVNS e a TVS.

* Melendez-Ramirez G, Soto ME, Velasquez Alvarez LC, Meave A, Juarez-Orozco LE, Guarner-Lans V, Morales JL. Comparison of the amount and patterns of late enhancement in Chagas diseaseaccording to the presence and type of ventricular tachycardia. J Cardiovasc Electrophysiol. 2019 Jun 6. doi: 10.1111/jce.14015. [Epub ahead of print]