Uma publicação de autores chineses de julho de 2018 (Revista Saúde Ambiental) analisou a importância do efeito de partículas ambientais nas internações devido a arritmias cardíacas*.
Os autores apontam que, nas últimas décadas, com o desenvolvimento da indústria e da economia, a poluição do ar ocupou, por sua importância, considerável preocupação de saúde pública em todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento, onde partículas ambientais (PM por sua sigla em Inglês) foram consideradas os poluentes predominantes.
Os poluentes ambientais foram o quinto fator de risco para mortalidade em 2015, com 7,6% das mortes globais e 4,2% dos DALYs (Disability Adjusted Life Year – anos de vida ajustados por incapacidade).
Na China, foi classificado como o quarto fator de risco para as doenças arrítmicas, o que levou a mais de 0,9 milhão de mortes prematuras por ano.
Evidências crescentes revelam vários pontos de associação entre poluição do ar, risco de internação hospitalar, visitas ao pronto-socorro e mortalidade por causas cardiovasculares.
O conhecimento profundo da associação entre PM e desfechos cardiovasculares específicos vem se mostrando de grande importância para melhor compreensão dos mecanismos fisiopatológicos, auxiliando no desenvolvimento de intervenções personalizadas e na elaboração de políticas de saúde.
Diversos estudos epidemiológicos anteriores sugeriram que a exposição a partículas ambientais pode ser responsável pelo desenvolvimento de arritmias cardíacas.
Recentemente, uma meta-análise demonstrou também a relação temporal entre PM 2,5- PM10 e hospitalização ou mortalidade arrítmica com uma taxa de risco de 1,015-10 g / m3 e 1009-10 g / m3, respectivamente.
No entanto, a maioria dos estudos anteriores que avaliaram a associação entre partículas e arritmias cardíacas foram realizadas na América do Norte, Europa Ocidental e Leste da Ásia.
Esclarecem os autores que os poluentes do ar discutidos neste estudo incluíram material em partículas com um diâmetro aerodinâmico inferior a 2,5 mícron (PM 2,5), material em partículas com um diâmetro aerodinâmico inferior a 10 mícron (PM10), monóxido de carbono (CO) dióxido de azoto (NO2) e dióxido de enxofre (SO2).
É possível que os resultados acima mencionados não sejam aplicáveis à China continental, devido a diferentes misturas de poluentes atmosféricos, padrões, estado de saúde e suscetibilidade da população.
Além disso, embora recentemente tenha sido realizado um estudo na China para explorar a relação entre a poluição do ar e as arritmias, as evidências ainda eram limitadas, pois os dados eram frequentemente restritos a cidades individuais, o que introduz incertezas nos resultados.
Além disso, evidências de estudos anteriores mostraram que pessoas com comorbidades podem ter um risco aumentado de morbidade e mortalidade cardiovascular, mas pouco se sabe sobre grupos potencialmente sensíveis em populações chinesas.
Portanto, o objetivo principal deste estudo foi explorar a associação entre a presença de partículas ambientais e hospitalizações por arritmia cardíaca em 26 grandes cidades chinesas durante 2014-2015, utilizando um estudo cruzado de casos estratificados ao longo do tempo.
O objetivo secundário foi examinar se os sujeitos com comorbidades específicas de saúde eram mais suscetíveis às partículas.
Para fazer isso, uma análise de caso cruzado foi realizada em 26 grandes cidades na China. No total, foram identificados 175.265 internações hospitalares por arritmia cardíaca entre janeiro de 2014 e dezembro de 2015, com base nos relatórios sumários de internação em formato eletrônico.
Uma regressão logística condicional foi realizada para estimar a porcentagem de alterações nas admissões por arritmia cardíaca em relação ao aumento na faixa interquartílica de poluentes atmosféricos.
A idade, sexo e condições de comorbidade pré-especificadas, que incluíram hipertensão, diabetes, insuficiência cardíaca congestiva e hiperlipidemia, foram estratificados para avaliar os fatores de suscetibilidade.
Observou-se que os níveis de PM estavam positivamente associados ao número de internações hospitalares por arritmia cardíaca. PM2.5 e PM10 tiveram o maior impacto em intervalo de até dois dias.
Um aumento da gama interquartílicas de concentrações PM 2, 5(47,5 g / m3) e PM10 (76,9 g / m3) no intervalo de 2 dias foram associadas com aumentos de 2,09% (IC de 95%, 1,58-2,60%) e 2,33 % (IC95%, 1.68-2,97%) na admissão hospitalar por arritmia cardíaca, respectivamente.
Evidência de modificação do efeito por idade e comorbidade com diabetes foi observada. Os idosos (> 65 anos) e comorbidade diabética tinham maior probabilidade de serem hospitalizados por arritmia cardíaca após a exposição a níveis elevados de PM.
Como conclusão, os autores afirmam que este estudo encontrou um risco maior de admissão de arritmia associada aos níveis de PM2.5 e PM10 em 26 cidades chinesas.
As associações de PM com internações por arritmia foram mais fortes na população idosa e em pessoas com diabetes.
* Zheng, Q., Liu, H., Zhang, J. e Chen, D. (2018). O efeito das partículas de ambiente nas admissões hospitalares por arritmia cardíaca: um estudo cruzado de casos de múltiplas cidades na China. Saúde Ambiental, 17 (1). doi: 10.1186 / s12940-018-0404-z